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CRÉDITO AO CONSUMO EM ALTA – É USADO PARA “TAPAR BURACOS NO ORÇAMENTO”
Em 2023, o novo crédito ao consumo bateu máximos desde o início da série, em 2012, tendo os bancos emprestado em crédito ao consumo, em fevereiro, 21.300 milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal (BdP). Os economistas alertam para o facto de o aumento do crédito ao consumo estar relacionado com a subida da inflação, com a perda de poder de compra e com a necessidade de “tapar buracos no orçamento”.

O montante total emprestado (stock) em crédito ao consumo, os já referidos 21.300 milhões de euros, representava mais 0,25% do que em janeiro (21.227 milhões de euros) e mais 3,8% em relação a fevereiro de 2023 (20.538 milhões de euros).

Quanto aos novos créditos aos consumidores, os últimos dados são de janeiro. No primeiro mês do ano, o montante concedido aumentou 9,5% em termos homólogos para 652 milhões de euros.

Deste valor, 237 milhões de euros foi para compra de carros, 288 milhões de euros para outros créditos pessoais (sem finalidade específica), 114 milhões de euros para cartões de crédito, linhas de crédito e facilidades de descoberto e 12,9 milhões de euros para crédito pessoal destinado a educação, saúde, energias renováveis e outras.

Em 2023, os bancos tinham emprestado 7.654 milhões de euros em crédito ao consumo, o valor mais alto desde o início da série (2012).

Mais empréstimos para “tapar buracos no orçamento”
Citado pela Lusa, o economista Sérgio Lagoa, do ISCTE, referiu que o “crédito ao consumo poderá estar a ser usado para tapar buracos no orçamento”. “Com a inflação e as prestações mais elevadas do banco possivelmente [os clientes] estão a usar o crédito ao consumo como forma de fazer face a despesas de educação, de saúde e eventualmente até para ajudar a pagar crédito habitação”, adiantou.

O também professor de economia monetária e financeira considera, no entanto, que não há um fator único a explicar o crescimento. Também a inflação tem impacto no aumento deste crédito, pois preços mais altos em bens e serviços implicam que consumidores peçam mais crédito, disse.

Uma opinião partilhada por pela professora Ana Cordeiro Santos, da Universidade de Coimbra, que relaciona o crescimento do crédito ao consumo com a inflação. A especialista admite também que se “poderá justificar face ao desequilíbrio que há entre a evolução dos rendimentos e dos preços”.

Segundo a investigadora, com trabalho sobre os temas da financeirização, do endividamento das famílias e da habitação, “é também um crédito de taxas de juro mais elevadas”, sendo um “acesso a rendimento com custo muito mais elevado por quem tem menos condições financeiras”.

Já Nuno Rico, economista da Deco, lembra que o aumento do crédito ao consumo desde meados de 2022 vem acompanhando a subida das taxas de juro que, com o aumento de outros custos de vida, levam ao aperto dos orçamentos familiares.

“As famílias não conseguem ter poupanças ou salário suficiente para despesas não recorrentes, como eletrodomésticos, mobílias, carros, despesas de educação, saúde. Usam crédito para lidar com despesas do orçamento familiar”, afirmou citado pela agência de notícia. 


FONTE: https://www.idealista.pt/news/financas/economia/2024/04/01/63432-credito-ao-consumo-em-alta-e-usado-para-tapar-buracos-no-orcamento (02/04/2024)